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segunda-feira, 5 de maio de 2025

A estrutura e organização militar da Rússia e Ucrânia

A organização e estrutura militar de ambos os lados do conflito passaram por mudanças memoráveis, tanto a Rússia quanto a Ucrânia se adaptaram e se reorganizaram militarmente.

Ucrânia

Em vez da estrutura de Corpo de Exército (C Ex) e dos antigos Distritos, foram criados os Comandos Operacionais (CO) ou Comandos de Teatro - Sul, Norte, Leste, Oeste. Em 2016, foi criado o Corpo de Reserva, que permaneceu como o único Corpo na estrutura das Forças Armadas até o ano de 2023. Em 2014, foi adicionada a sede da ATO (Anti-Terrorist Operation Zone), seguida pela JFO (Joint Forces Operation). Já em 2016, a estrutura foi quebrada novamente, com o surgimento do GOT [Grupo Operacional-Tático] de Donetsk. Em 2022, os GOEs [Grupos Operacionais-Estratégicos] Tavria e Khortytsia foram adicionados a essa estrutura. E vários outros GOTs apareceram - Kharkiv, Odesa, Sumy, Lyman, Soledar, etc. Em 2023, foram criados o 9º e o 10º Corpo, bem como o 30º Corpo de Fuzileiros Navais.

Entretanto, os GOTs/GOEs continuam existindo nessa bagunça, assim como os COs. E isso continua gerando uma gestão ineficaz. Com um comandante de brigada - comandante de corpo - comandante do CO - comandante das Forças Terrestres - comandante-em-chefe em uma estrutura de comando vertical, as decisões são tomadas de forma relativamente rápida e eficiente. Mas quando o GOT e o GOE existem verticalmente ao lado do CO, e são ainda mais importantes do que este último, isso cria ineficiência. Porque é problemático passar por mais 2 canais de comando na estrutura hierárquica.

Alguns analistas ucranianos pedem a eliminação de GOTs e GOEs no futuro. Isso só poderia acontecer quando o processo de formação do C Ex for concluído, e o comando do CO for reforçado por comandantes do GOT/GOE, formando EMs (Estado-Maiores) do CO totalmente funcionais, onde as decisões são tomadas rapidamente. Ao mesmo tempo, o fortalecimento da equipe do CO devem ser entre oficiais que tenham se provado em combate e gozem de grande respeito entre os militares.

Resumindo: um comandante de brigada pode ser obrigado a se reportar ao GOT, GOE, CO e ao C Ex, o que criou uma verdadeira bagunça no C2 (Comando e Controle) ucraniano. Na estrutura atual, os GOTs são um grupo operacional sem ter unidades orgânicas anexadas a eles. O problema é que os GOTs têm as responsabilidades de um C Ex, sem ter nenhuma unidade sob eles organicamente (ou seja, permanentemente) e sem consistência em termos de unidades sob seu comando.

Atualmente, as Forças Terrestres da Ucrânia (SV ZSU) têm três C Ex: o 9º, 10º e 11º C Ex. Além disso, as Forças de Assalto Aéreo (DSHV ZSU) incluem o 7º Corpo de Assalto Aéreo, e os Fuzileiros Navais (MP ZSU) têm o 30º Corpo de Fuzileiros Navais. Outro C Ex dentro das Forças Terrestres está atualmente em processo de formação.

O problema é que esses C Ex não existem de fato, porque as brigadas que fazem parte deles lutam em setores totalmente diferentes - sob subordinação operacional aos GOTs, ou aos Grupos Táticos (GTs), que por sua vez respondem ao GOE. Os CO hoje têm apenas uma função formal e organizacional (por exemplo, criação de novas brigadas) e não de comando e controle.

Desde 2022, a Ucrânia formou centenas de batalhões de fuzileiros separados, dos quais eles agora estão tentando moldar uma formação a nível brigada. É mais fácil formar um batalhão e então eles ganharão experiência no curso das operações de combate. Mas isso poderia ter sido feito com brigadas imediatamente. Em vez de tapar os buracos com batalhões.

E nem estamos falando da Força de Defesa Territorial (TDF), que constituem uma estrutura separada nas Forças Armadas. A mecanização do TDF falhou quase completamente. Mas a maioria dos batalhões tem ampla experiência de combate e definitivamente merece ser mecanizada e se tornar parte do C Ex. Ou seja, temos uma situação em que novas brigadas são formadas a partir dos batalhões, enquanto os da TDF são sistematicamente esquecidos.

Seria muito mais fácil para a Ucrânia ter incluído os batalhões existentes na estrutura das brigadas existentes. E proibiria a formação de novos batalhões. Porque é estúpido formar 10 brigadas a partir dos batalhões. Não há equipamento suficiente para todos eles, então precisam priorizar corretamente. Para resumir esta área, podemos dizer que perceberam a tempo que não podem ir a lugar nenhum sem C Ex e decidiram finalmente formá-los.

Também é muito bom que finalmente tenham começado a equipar completamente as antigas brigadas de combate e fornecer a elas as armas mais recentes. Embora isso esteja pelo menos um ano atrasado. Melhor tarde do que nunca. No entanto, o problema de acabar com os batalhões e a falta de mecanização da TDF (com algumas exceções, como a 100ª Brigada) é algo que definitivamente não aumenta a eficácia do uso das unidades. Então, ainda espero que gradualmente os problemas sejam resolvidos e a estrutura de gerenciamento de tropas seja otimizada.

Uma estrutura bem organizada com o mínimo possível de cadeias de tomada de decisão é sempre bom. Agora os ucranianos devem voltar para a gestão vertical reestruturada.

Quando você tem a seguinte estrutura: brigada - Corpo - CO - Comandante das Forças Terrestres - EM, é possível tomar decisões de forma rápida e eficiente. E o mais importante, pode liberar muitos oficiais dignos da GOT/GOE para uma melhor gestão no nível do CO e do C Ex. Neste caso, será mais difícil esconder a perda de posições como acontecem a exemplo de Ocheretyne, porque o controle é mais fácil. E a responsabilidade aumenta.

Como parte das reformas, eu dissolveria completamente o TDF, cada batalhão de fuzileiros separado e a maioria das brigadas da SV ZSU criadas desde o início de 2023 (além de todas as brigadas blindadas), e também dissolveria corpos intermediários como GOE, GOT e Grupos Táticos. Se necessário, também dissolveria algumas unidades de proteção da Guarda Nacional e alguns destacamentos do Serviço de Guarda de Fronteira do Estado. As unidades de proteção restantes da Guarda Nacional e os destacamentos de fronteira deveriam ser em grande parte ocupados por jovens (mobilizando os menores de 25 anos, pelo menos parcialmente) e enviados para cobrir a fronteira com a Bielorrússia, a Transnístria e importantes instalações civis e militares na retaguarda e nas grandes cidades em geral. A outra consideração é a necessidade de eliminar também o a Força de Sistemas Não-Tripulados (SBS) que foi criado, darei as razões em um post futuro no blog.

Falando do cenário organizacional dos ucranianos, o cenário estratégico do ZSU (Forças Armadas Ucranianas) é dividido em três Grupos Estratégicos Operacionais que são vagamente similares a grupos militares. Estes são, de norte a sul, os Grupos de Operações Estratégicas (OSGs) Khortytsia(K), Tavria(T) e Odessa(O).

Odessa(O) - Grupo operacional-estratégico de Odessa

Tavria(T) - Grupo operacional-estratégico de Tavria

Khortytsia(K) - Grupo operacional-estratégico de Khortytsia

Rússia

A organização russa no nível menor é baseada em brigadas e divisões separadas (e não mais em BTGs como no início da invasão em larga escala), com algumas das primeiras unidades sendo gradualmente reformadas em Divisões de Exército (DE). Digamos que essa seria a ambição russa: prosseguir rapidamente com esse plano não é nada fácil.

Eles são subordinados ao seu CAA (Combined Arms Army), que tem jurisdição em um setor específico (eles são, na verdade, formações do tamanho de C Ex). O nível superior é o Grupo de Forças Operacionais (GFO), que atua como um Grupo de Exército (embora seja o equivalente a um Exército que equivale a 2-4 C Ex), e é o desdobramento dos Distritos Militares (DM) na linha de frente. 

Há muita correspondência entre eles - geralmente um GFO incluirá a maioria das unidades e formações de um DM, embora geralmente tenha unidades pertencentes ao mesmo DM em outros GFOs, bem como unidades sob ele que na verdade pertencem a outros DMs. Os GFOs são geralmente liderados pelo comandante do DM correspondente. No nível central, há o Comando do Grupo Conjunto de Forças na área “SMO” (presidido por Gerasimov).

Esta é a divisão estimada disponibilizada dos GFOs em torno dos quais a gestão operacional e estratégica do grupo russo implantado na Ucrânia é organizada:

Grupo de Forças Ocidental (Zapad) (GFO-O Zapad) -

Pessoal: 80.000

Tanques: 1.112

Blindados: 1.840

Artilharia >100 mm: 790

MLRS: 280

Grupo de Forças Sul (Yug) (GFO-S Yug) -

Pessoal: 110.000

Tanques: 400

Blindados: 1.600

Artilharia >100 mm: 1.150

MLRS: 300

Grupo de Forças Centro (Tsentr) (GFO-C Tsentr/Centr) -

Pessoal: 87.000

Tanques: 386

Blindados: 774

Artilharia >100 mm: 832

MLRS: 212

Grupo de Forças Oriental (Vostok) (GFO-O Vostok) -

Pessoal: 52.000

Tanques: 400

Blindados: 800

Artilharia >100 mm: 310

MLRS: 100

Grupo de Forças Dnepr (GFO-D Dnepr) -

Pessoal: 130.000

Tanques: 670

Blindados: 1.950

Artilharia >100 mm: 900

MLRS: 200

No mapa, havia dois grupos não ativos na Ucrânia, envolvidos na guarnição das fronteiras, eles são os grupos Briansk/Kursk e Belgorod (agora formam o Grupo de Forças Norte):

Grupo de Forças Bryansk/Kursk -

Pessoal: 16.500

Tanques: 80

Blindados: 220

Artilharia >100 mm: 320

MLRS: 20

Grupo de Forças Belgorod -

Pessoal: 17.700

Tanques: 110

Blindados: 361

Artilharia >100 mm: 415

MLRS: 38

Como se sabe, o Grupo de Forças Norte (Sever) (GFO-N Sever) foi criado, provavelmente como uma fusão dos dois grupos (Briansk/Kursk e Belgorod) ou simplesmente mudando o nome do Grupo de Forças  Belgorod para Grupo de Forças Norte.

Estimativa aproximada das direções dos Agrupamentos Estratégicos Operacionais Russos:

Grupo de Forças Ocidental/Zapad (GFO-O Zapad): começa em Kreminna (Luhansk) e termina em Topoli (Kharkiv)

Grupo de Forças Sul/Yug (GFO-S Yug): começa entre Krasnohorivka (Donetsk) para Solodke (Donetsk) e Bilohorivka para Zalizne/Maiorska/Shumy (Donetsk)

Grupo de Forças Centro/Tsentr (GFO-C Tsentr/Centr): começa entre Zalizne/Maiorska/Shumy (Donetsk) para Nevelske (Donetsk)

Grupo de Forças Oriental/Vostok (GFO-O Vostok): começa de Novopokrovka (Zaporizhzhia) na direção de Verbove para Volodymyrivka (Donetsk)

Grupo de Forças Dnepr (GFO-D Dnepr): começa de Novopokrovka (Zaporizhzhia) na direção de Verbove até a foz do rio Dnipro (Kherson)

O atual comandante do Grupo de Forças Norte (Sever) (GFO-N Sever) é o coronel-general Lapin (desde meados de abril, quando este GFO foi criado); ele poderá ser substituído pelo major-general Alexander Kravtsov, ou seja, o atual comandante do 41º CAA (Distrito Militar Central). Esses são apenas rumores e isto não é confirmado por fontes mais autorizadas, pelo que veremos se isso encontra desenvolvimento ou confirmação. Afirma-se que Lapin permaneceria comandante do Distrito Militar de Leningrado de qualquer maneira.

Uma destas duas fontes afirma que o comandante das operações em Vovchansk é o major-general Storozhenko, comandante do 6º CAA (Distrito Militar de Leningrado). Ele é natural de Kharkiv e em 2014 foi comandante, como coronel, da 36ª Brigada de Defesa Costeira da Ucrânia na Crimeia. Quando os russos tomaram, ele desertou para o lado deles e tornou-se comandante da 126ª Brigada de Defesa Costeira, criada com base na brigada ucraniana dissolvida (que mais tarde foi reconstituída em Mykolaiv como a atual 36ª Brigada de Fuzileiros Navais). Posteriormente, fez carreira nas Forças Russas, tornando-se vice-comandante do 35º CAA (Distrito Militar Oriental) e seu comandante interino durante a primavera/verão de 2022. Fontes abertas sugerem que ele se tornou comandante do 6º CAA no início deste ano, quando de acordo com alguns rumores russos, a liderança do 6º CAA e de suas brigadas foi removida após as falhas em torno de Synkivka, no setor de Kupiansk.

Também houve uma remodelação no comando de alguns distritos militares, de acordo com fontes oficiais russas:

O Coronel-General Kuzovlev tornou-se comandante do novo Distrito Militar de Moscou (não está claro se, como resultado disso, tenha se tornado o comandante do Grupo de Forças Ocidental (GFO-O Zapad) também). Antes de fontes russas divulgarem isso, isso foi antecipado pelo observador militar ucraniano Mashovets em meados de abril. Kuzovlev era até agora o comandante do Distrito Militar Sul, onde foi substituído pelo Coronel-General Anashkin (o atual comandante do Grupo de Forças Sul não é conhecido). Conforme escrito acima, Lapin é o comandante do Distrito Militar de Leningrado desde a sua criação no final de fevereiro. O Coronel-General Mordvichev, responsável pela tomada de Avdiivka, foi confirmado como comandante do Distrito Militar Central, bem como do Grupo de Forças Centr. O Tenente-General Alexander Sanchik tornou-se o comandante do Distrito Militar Oriental, substituindo o Coronel-General Kuzmenko. O atual comandante do Grupo de Forças Vostok é desconhecido. Em contraste, o comandante do Grupo de Forças Dnepr continua sendo o Coronel-General Teplinsky, que também é o comandante do VDV.

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